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“Nunca vi ato ilícito”, defende-se ex-presidente do Conselho Curador do HC

12.08.2013 · 12:00 · CPI

Ouvido pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal que investiga a suposta privatização do tratamento oncológico em Campo Grande, na manhã desta segunda-feira (12), o ex-diretor do Conselho Curador do Hospital do Câncer, Blener Zan, negou irregularidades durante sua gestão a frente do órgão e disse desconhecer possíveis atos ilícitos praticados na unidade. 
 
“Desde o princípio, nunca desconfiei de nada. Nunca vi ato ilícito aos meus olhos para que não me permitisse continuar fazendo parte do Conselho. Sempre vi atitudes relacionadas a melhorar o atendimento dos pacientes, oferecer remédios top de linha, independente se custasse um pouco a mais que os outros. Não acredito em nada disso, vindo da parte da dona Betina (Siufi) e do doutor Adalberto (Siufi)”, garantiu.
 
Blener Zan, que foi um dos fundadores da Fundação Carmem Prudente, mantenedora do HC, foi sabatinado durante quase duas horas pelos vereadores Flávio César (presidente), Carla Stephanini (relatora), Cazuza, Coringa e Alex do PT. Ele presidiu o Conselho Curador da unidade de saúde até o mês de março deste ano, quando a Polícia Federal, em parceria com a CGU (Controladoria-Geral da União), deflagrou a Operação Sangue Frio, que desmantelou um suposto esquema de desmonte da rede pública de tratamento do câncer e direcionamento de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) para o setor privado.
 
Em seu depoimento, Zan afirmou que mantinha, de fato, um relacionamento profissional com Adalberto Siufi – um dos principais investigados pela PF. “Eu conheci há muitos anos, como cliente da loja. Depois, passei a conviver no trabalho do hospital, uma ou duas vezes por semana. Ele é médico meu, particular, de minhas filhas, esposa. Não tinha um grau de amizade profunda, não ia a casa dele”, afirmou. Ele ainda aprovou o trabalho do médico a frente do HC. 
 
“Um gestor interessado por atingir as metas do hospital, sempre. Todas as atitudes que eu vi dele, como gestor, foi sempre visando o bem das pessoas. Presenciei vários procedimentos médicos dele dentro do hospital. E, na gestão do hospital, sempre vi que ele buscava melhorar o ambiente do hospital, o nível dos profissionais”, garantiu Blener Zan.
 
Questionado pelos vereadores, Zan reafirmou que todas as “importantes decisões” da diretoria do Hospital do Câncer passaram pelo crivo do Conselho Curador. Ele disse desconhecer as recomendações do MPE (Ministério Público Estadual) que pediam a rescisão do contrato com a NeoRad – empresa de Adalberto Siufi – e a demissão de Betina Siufi, filha do oncologista.
 
“Essas recomendações foram passadas para o departamento jurídico e foram respondidas. Várias recomendações do MP foram acatadas, algumas talvez não. O jurídico não me passou nenhum impedimento de que continuasse, por exemplo, a dona Betina lá”, defendeu-se, negando um possível contrato do HC com a empresa. “Se houve isso daí, foi sem o meu conhecimento. Eu não conhecia esse detalhe”.
 
Blener afirmou ainda que uma “simples” recomendação não precisa, necessariamente, ser acatada. “Uma recomendação não quer dizer que seja uma lei. É simplesmente uma recomendação. A diretoria executiva se reuniu para tratar desses assuntos e, através da resposta do jurídico, de que não era necessária alguma medida nesse sentido, de dispensar a Betina, achamos por bem não levar em consideração isso. O jurídico informou que não haveria necessidade. Então, a diretoria resolveu manter”, completou.
 
Contas eram aprovadas sem ressalvas, diz ex-presidente 
 
Ex-presidente da Fundação Carmem Prudente e do Conselho Curador do Hospital do Câncer, o médico Luiz Felipe Terrazas Mendes, também ouvido pelos vereadores da CPI, afirmou que as contas do HC eram aprovadas sem ressalvas durante sua gestão. Sua oitiva durou cerca de uma hora e meia e sucedeu o depoimento de Blener Zan.
 
“Quando você apresenta (a prestação de contas), na reunião, vem o contador. Ele comparece e faz a leitura. Sim (sempre aprovou as contas sem questionar). O único questionamento que houve foi no final de 2010, se não me engano. 2010 ou 2011. O pessoal questionou, e o contador foi lá, mostrou. Tinha errado um item. Ele explicou e foi aprovado”, afirmou, acrescentando que as últimas reuniões do Conselho passaram a ser gravadas.
 
Terrazas Mendes, que é professor aposentado da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) presidiu o Conselho Curador entre 2003 e 2011. Em seu depoimento, ele afirmou que não queria assumir a gerência do órgão máximo deliberativo do HC e, assim como Zan, elogiou o trabalho de Adalberto Siufi. “Se você falar em HC hoje, ele existe porque o doutor Adalberto é persistente. Ele ia atrás de todo mundo. O sonho dele era ter um hospital do câncer aqui no nosso estado”, disse.
 
Para o vereador Flávio César, que preside a CPI, o Conselho Curador não cumpria o papel de fiscalizar a diretoria do hospital. “A diretoria faz o que quer e bem entende, e o Conselho Curador faz vistas grossas. Pelo que a gente pode perceber, até o momento, o Conselho Curador era apenas para inglês ver. Um Conselho que tem a função de fiscalizar um hospital referência, que trata a maioria dos casos de câncer do Estado, se reúne apenas duas vezes por ano. Os diretores-presidentes ainda tinham uma ligação com o diretor-geral do Hospital, Adalberto Siufi”, pontuou.
 
Jeozadaque Garcia
Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal
 
material editado às 17h08 para acréscimo de informação