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‘Não é manha’: Audiência discute políticas de prevenção à depressão infantil

23.09.2019 · 12:00 · Audiência Pública

Membros dos poderes Executivo e Legislativo, representantes da sociedade civil organizada e especialistas discutiram, nesta segunda-feira (23), políticas públicas voltadas para a prevenção à depressão infantil. O evento foi proposto pelo vereador Odilon de Oliveira, presidente da Comissão Permanente de Política Antidrogas da Casa de Leis, composta ainda pelos vereadores Delegado Wellington, Pastor Jeremias Flores, Papy e Fritz.

“Por mais que tenhamos o desejo de mudar o mundo, por questões legais, não conseguimos fazer isso de forma efetiva. Por outro lado, vejo como a prevenção pode ser o caminho para que possamos aparelhar as famílias para combater esse mal. A doença atinge todas as idades e deve ser combatida desde a primeira infância”, alertou Odilon.

A discussão reuniu ainda profissionais da área da saúde, educação, assistência social e entidades religiosas. O objetivo foi abordar o tema e apontar as causas e consequências da depressão nessa faixa etária. 

“Depressão é uma doença, não é manha, não é sinal de fraqueza. A criança tem dificuldade de expressar que está depressiva, porque ela não sabe nomear o que está sentindo. Será que estamos prestando atenção nos nossos pequenos?Nossa rotina está dando abertura para eles falarem o que sentem? Cada vez mais as nossas crianças estão pedindo socorro de uma forma silenciosa”, analisou a psicóloga AlecssandraSayd, especializada em terapia infantil.

Ela lembra ainda que os professores são os maiores aliados dos pais no diagnóstico da depressão, por estarem no dia a dia com as crianças. “A depressão é um transtorno mental caracterizada por tristeza permanente e perda de interesse por atividades que normalmente são prazerosas, durante pelo menos por duas semanas. Nossos maiores aliados para detectar se uma criança está entrando ou passando por um quadro depressivo, são os nossos professores”, completou.

Na Audiência, foram debatidos os sintomas na infância e adolescência, que tem algumas diferenças em relação aos adultos. Ter medo de dormir sozinha, não querer ir para escola, ter piora no rendimento escolar, dores de cabeça e abdominais são alguns dos sinais de alerta. O debate ocorre durante o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, em que as discussões relacionadas à saúde mental e valorização à vida são ampliadas.

Em sua fala, o médico psiquiatra Marcos Estevão dos Santos Moura defendeu um programa de acompanhamento das crianças e maior participação dos educadores na identificação da doença. “Os professores têm que aprender a identificar essa anormalidade. Eles têm que chamar os pais para estarem juntos. É uma responsabilidade compartilhada. O que eles podem fazer? Isso é um problema de saúde pública. Hoje, a criança não aprende lidar com as frustrações. O bullying, por exemplo, sempre existiu, mas a interpretação que era dada é diferente de hoje”, considerou.

Já o conselheiro tutelar Marcelo Marques defendeu não somente a capacitação dos professores, mas, também, a presença de psicólogos dentro da escola. “A Prefeitura tem que propiciar psicólogos dentro da escola e mais profissionais na saúde. Muitos têm vergonha de falar. Se cada um não fizer a sua parte, o próximo pode ser seu filho. A criança passa a maior parte do tempo dentro da escola. A professora tem que estar apta para perceber. Tem que ter um psicólogo pra fazer um primeiro atendimento imediato. Temos que diminuir o tempo para atendimento. Se a gente não agilizar, infelizmente, amanhã teremos um óbito”, lamentou.

O subsecretário de Defesa dos Direitos Humanos da Prefeitura, Ademar Vieira Júnior, defendeu a ampliação das políticas de enfrentamento à depressão infantil. “Que essas políticas públicas possam chegar. Temos que falar sobre depressão. Como você vai combater o mal sem estrutura?É muito importante que se possa ter um orçamento específico para que se possa trabalhar, para que possamos desenvolver políticas públicas e possamos contratar profissionais.A política pública é ir ao encontro, não apenas no Setembro Amarelo”, sugeriu.

Para a vereadora Enfermeira Cida Amaral, a família deve receber apoio para o tratamento das crianças. “É muito fácil falar que a família tem que se virar, tem que dar conta. Isso me incomoda demais. A educação já tem o protocolo, passando para a saúde. Mas como estão nossos centros de apoio? É muito sério isso. O bullying está acabando conosco. Eu passei bullying, mas aquilo me fortaleceu. Não basta a gente mexer na ferida. É uma ferida que vamos ter que ajudar sarar. Enquanto as nossas crianças estiverem vulneráveis, formaremos cidadãos que tentam suicídio. Estou angustiada, mas, como legisladora, estou à disposição de vocês”, garantiu.

Jeozadaque Garcia
Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal