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Em Audiência, enfermeiros obstétricos clamam maior atuação no processo de humanização do parto

02.04.2018 · 12:00 · Audiência Pública

O mês de abril é marcado para a saúde como o mês da Enfermagem Obstétrica. E, em busca da maior atuação do profissional dentro do processo de humanização do parto, os vereadores da Câmara Municipal de Campo Grande realizaram nesta segunda-feira (2), Audiência Pública para discutir com a categoria a atenção à saúde no ciclo gravídico-puerperal no município de Campo Grande.

A diretora do Hospital Regional de Ponta Porã, enfermeira Giulia Stefanie Brey, apresentou o trabalho realizado no hospital de Ponta Porã. “Nós todos temos conhecimento de que o ambiente hospitalar veio para trazer segurança para o bebê e para a mãe, dentro da saúde pública o ciclo gravídico – puerperal é visto como uma doença, e não como um evento mais importante e cheio de emoções para aquela gestante, cada nascimento é um momento único. Pensando nesse contexto, como enfermeira e como gestora, a enfermagem obstétrica teve grandes alterações ao longo dos anos para fazer que o nascimento seja o mais natural possível, retornar à origem do nascimento. Dentro disso, no Hospital Regional de Ponta Porã a gestante tem um atendimento diferenciado, uma porta exclusiva para entrada das mulheres em trabalho de parto, incentivamos a presença de um acompanhante, em algumas maternidades sabemos que isso não é possível, mas incentivamos a presença do pai, ensinamos o aleitamento materno, incentivamos que o pai dê o primeiro banho no bebê, a visita à maternidade também é incentivada para a mulher estar sempre fazendo consultas para ensinarmos os tipos de partos, incentivamos o aleitamento materno na primeira hora, o contato pele a pele, esse aleitamento materno vem proporcionar maior qualidade de vida para o recém-nascido. Nossa gestão incentiva e dá munição ao enfermeiro obstétrico para que ele faça um excelente trabalho”, contou.

De acordo com o Dr. Sebastião Junior Henrique, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul (Coren -MS) é lindo ver onde a enfermagem obstétrica dá certo, “o Hospital Regional de Ponta Porã já avançou muito, não somos contra a cesária, mas tem que ser realizada quando não há outro recurso, essa Audiência Pública é um momento oportuno para tratar o assunto. A enfermagem tem dado grandes contribuições nesse País, inclusive tem sido modelo para outros países, a enfermagem é uma das profissões mais antigas, o único conselho que os profissionais devem obediência é o conselho de enfermagem. Infelizmente, em pleno século 21, com tantas tecnologias que dispomos hoje, tivemos que estabelecer quais são os limites da enfermagem para que não tenhamos um retrocesso. A mortalidade materna é um grave problema de saúde pública, precisamos provocar mudanças em alguns indicadores da saúde materna e infantil. E, se a enfermagem obstétrica pode contribuir com isso, outra profissão não pode cercear aquilo que é direito por lei, limitar atuação da enfermagem obstétrica é ferir a lei. O modelo de Ponta Porã é excelente, deve ser implementado em todo Estado”, defendeu.

O vereador Fritz demonstrou preocupação com as condições de trabalho dos enfermeiros. “Temos que pensar também nesse profissional, falarmos sobre a condição de trabalho desses profissionais. Precisamos voltar o olhar para o profissional, estimular a qualificação, precisamos valorizar esse profissional”, ressaltou.

 Segundo a gerente da Saúde da Mulher Estadual e membro do Conselho Estadual de Políticas para as Mulheres, Hilda Guimarães Freitas, a enfermagem obstétrica tem uma contribuição muito grande para a saúde pública, “a nossa grande luta é reverter a mortalidade materna, quando vemos enfermeiros obstétricos atuando é um grande avanço, é uma quebra de paradigmas, essa audiência vem somar com a nossa luta que é reverter esses indicadores da mortalidade materna e mortalidade infantil, é um avanço ver esse profissional fazendo um parto, lutamos para que a enfermagem obstétrica seja fortalecida”, declarou.

Segundo a representante do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e membro da Comissão de Saúde da Mulher, Elisanete de Lourdes Carvalho, “o Cofen vem lutando para dar autonomia para a categoria de enfermagem, principalmente, nesse aspecto da saúde da mulher, as leis existem, mas não são cumpridas, há muito tempo estou na luta pela saúde das mulheres. Estou satisfeita com o Hospital Regional de Ponta Porã, porque nos proporciona esperança para continuarmos a nossa luta. O Cofen apoia toda iniciativa que valorize o profissional de enfermagem”, afirmou.

Para a assessora técnica da Coordenação Geral de Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde, Sara Delfino da Silva, “entendemos o quão importante é o enfermeiro obstétrico trabalhando com a assistência das mulheres, existe sim indicadores da redução de cesárias desnecessárias. É preciso entender que esse profissional tem capacidade para cuidar dessa mulher, fazer sua internação, com adoção de boas práticas, adoção de protocolo. Entendemos que o enfermeiro obstétrico é um profissional capacitado para atender essas mulheres, as mulheres estão morrendo e precisamos combater isso, precisamos levar qualidade de vida para as mulheres”, avaliou.

Já a técnica da Subsecretaria de Estado de Políticas Públicas para Mulheres, Ana  José Alves, afirmou que é necessário ter muita articulação para conquistar a redução da violência obstétrica, “realmente os indicadores nos preocupam, o índice é muito alto de óbitos, precisamos de muita conversa, de muita articulação, porque dentro do que temos acompanhado há um alto índice de violência obstétrica, nós temos principalmente um olhar humanizado para as mulheres negras e indígenas, sei que a caminhada é muito longa, o País é feito de muitas leis, decretos e protocolos, e percebemos a dificuldade de colocar isso em prática, essas boas práticas precisam ser exercitadas todos os dias, queremos indicadores zero”, destacou.

De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras do Estado de Mato Grosso do Sul (ABENFO-MS), Sônia Solange Ennes Pessoa, a legislação dá suporte para atuação do enfermeiro obstétrico, “a legislação nos dá suporte, não precisamos de ninguém falando o que temos que fazer, temos que nos aliar, temos que aprender com exemplos, somos seres humanos cuidando de outros seres humanos”, disse.

Já o vereador Dr. Wilson Sami apontou a dificuldade na realização de um pré-natal adequado como um fator que eleva o índice de mortalidade materna, “precisamos melhorar nosso pré-natal, temos que melhorar nossa gestão, não é possível solicitarmos um exame no dia do atendimento da gestante e somente após 40 dias essa mãe conseguir retornar ao consultório pela dificuldade em marcar um exame, muita coisa pode ser prevenida. E, o enfermeiro obstétrico é um profissional fundamental para fazermos um excelente trabalho, tudo dentro da medicina é importante, temos que lutar juntos”, alegou.

Para a proponente da Audiência Pública, vereadora enfermeira Cida Amaral, é necessário quebrar paradigmas, “quero ressaltar como enfermeira que precisamos trabalhar em equipe, precisamos quebrar paradigmas e acreditar que o parto normal é a coisa mais linda de se ver, que a ciência nos dá sabedoria porque estamos trazendo ao mundo o melhor da essência, que é o ser humano”, finalizou.

O debate foi convocado pela Comissão Permanente de Saúde, composta pelos vereadores Dr. Loester (presidente), Antônio Cruz (vice), Enfermeira Cida, Dr. Lívio e Fritz.

Dayane Parron

Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal