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Em audiência, líderes defendem respeito e união entre religiões de matriz africana

24.10.2019 · 12:00 · Audiência Pública

Líderes religiosos defenderam, durante audiência pública nesta quinta-feira (24), respeito e união entre as religiões de matriz africana de Campo Grande. O primeiro debate do gênero realizado na Câmara foi convocado pela Comissão Permanente de Cidadania, Direitos Humanos e da Proteção à Mulher da Câmara Municipal, composta pelos vereadores Ademir Santana (presidente), Pastor Jeremias Flores (vice), Dharleng Campos, Papy e Dr. Wilson Sami.

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“Pela primeira vez a Câmara abre um debate assim. Peço uma união, uma unificação. Temos realidades e situações diferentes. Mas, vamos pontuar tudo. Não vamos resolver tudo, mas estamos iniciando. Vamos fazer um processo de fortalecimento com relação a essas religiões de matriz africana”, afirmou o vereador Fritz, que presidiu a audiência.

A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. Em Campo Grande, também por força de lei, o dia 20 de novembro foi declarado o Dia do Culto e da Visibilidade das Religiões de Matriz Africana.

“Vir a esta Casa é muito importante para defender uma causa que é nossa. As forças têm que se somar. Precisamos conversar lá fora, de forma que não haja disputa. Todos os processos de diálogo têm que acontecer para que possamos avançar”, defendeu a coordenadora do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de Mato Grosso do Sul, Romilda Pizani.

Para Ana José Alves, subsecretária de Políticas Públicas de Igualdade do Estado, é necessário debater a questão da visibilidade dessas religiões. “Quantos somos? Quantos terreiros temos? Quantas casas temos mapeadas? Não sabemos. Temos que ter respeito por todas as religiões. Falar de unidade não é fácil e espero que essa audiência sirva para traçar novas políticas públicas municipais e também para o Estado”, afirmou.

Opinião similar tem o Pai João de Ogum, presidente do Coletivo Povos de Axé, que defendeu mais afinidade entre as religiões. “Não temos união entre nós. Precisamos unir a nossa religiosidade. Sou profissional, sou serralheiro, trabalho todos os dias. Não entendo nada de política, mas entendo um pouco de religião. Então, gostaria de pedir, pessoal da umbanda, candomblé, união entre nós. Religião é o divino. Temos que procurar cultuar o divino”, reforçou.

“Quando falamos de um coletivo religioso, não podemos pensar apenas em grupos. Para que as coisas aconteçam, precisamos de um primeiro passo. O vereador não é responsável por isso. Ele nos abriu a porta e deu oportunidade de tornarmos público, até mesmo entre nós. Essa religiosidade não pode fazer distinção, e nossas lideranças não podem eleger grupos. Todos nós fazemos parte de um grupo. Não somos apenas povo de terreno, somos parte da sociedade. E antes de exigirmos nossos direitos, temos que conquistar o nosso direito junto a essa sociedade, junto a nossas lideranças políticas”, disse Babá Frank.

A Mãe Adriana de Oyá, representante de Mato Grosso do Sul na Confraria das Oloyás, o poder público deve dar mais atenção à essas religiões. “Por que outros podem expressar sua fé publicamente e nós não? Muitos irmãos têm problemas com vizinhos, que foram apedrejados. Nós temos que botar nossa cara na rua, assumir nossa posição como religiosos, mas, também, o poder público tem que olhar para nós. Algumas casas não conseguem se legalizar por conta a burocracia. Estamos na federação, mas não estamos legalizados. É muito caro e tem muita burocracia”, apontou.

Para Eva Veiga Velasques, da Casa de Oração Caboclo Pena Branca, a intolerância deve ser combatida ainda nas escolas. “Precisamos fortalecer a lei que obriga as escolas a incluírem em sua programação a história da cultura negra. Se uma criança aprende desde o início, quando crescer, ela será um adulto menos intolerante. Conhecimento não mata ninguém. A minha maior preocupação, hoje, em termos de religiosidade, é a intolerância. E ela iniciou com a chegada dos portugueses, quando eles obrigaram o povo daqui a engolir o catecismo. A intolerância religiosa vem aumentando cada vez mais e as religiões de matriz africana são as que mais sofrem por pura falta de conhecimento, pois não temos espaço para falar de nossa raiz e contar nossa história”, lamentou.

Jeozadaque Garcia
Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal