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Em audiência, especialistas alertam para riscos do uso de cerol e linha chilena

27.09.2019 · 12:00 · Audiência Pública

Autoridades e especialistas das áreas da saúde e segurança pública condenaram, durante audiência pública nesta sexta-feira (27), o uso de cerol e linha chilena nas pipas. O debate, convocado pela vereadora Enfermeira Cida Amaral, vice-presidente da Comissão de Saúde da Casa de Leis, foi realizado para discutir o Projeto de Lei 9467/19, que institui a Semana Municipal de Prevenção de Acidentes com Pipas em Campo Grande.

“Não basta ter lei, temos que conscientizar o nosso povo sobre os riscos do cerol. Eu, como enfermeira, luto pela prevenção. Já tive o desprazer de atender pessoas que não tiveram a felicidade de sobreviver. Já atendi pessoas que deceparam traqueia e artérias, e morreram, pois não tem jeito. Já atendi crianças que deceparam o braço pela linha chilena. Não somos contra as pipas, mas contra o cerol e a linha chilena. Eu falo com conhecimento de causa. Sou uma jovem senhora, que será avó. Quero ver meus netos brincando com pipa, sem o risco de se matarem, ou matarem alguém”, disse a vereadora.

O Projeto de Lei tem o objetivo difundir informações e orientações, em linguagem simplificada e acessível, sobre os riscos de acidentes com pipas, bem como sobre as consequências psicológicas, estéticas e fatalidades decorrentes de lesões causadas por acidentes por causa do uso ilegal de pipas. A conscientização será através de folhetos, cartazes, cartilhas, livretos, peças publicitárias, bem como mostra de vídeos, filmes e documentários cujo conteúdo contribua para as finalidades estabelecidas.

Segundo o presidente do grupo de proprietários de Harley Davidson do Brasil, Gustavo Assunção, o uso ilegal das pipas atinge não somente ciclistas e motociclistas. “Somos totalmente contra cerol e linha chilena. Infelizmente, somos obrigados a usar antenas que cortam linhas. É uma questão de precaução, obrigatória, indevida. Não deveríamos comprar a antena, não deveríamos nem ter cerol na rua. A linha com limalha, por exemplo, causa curto circuito em rede elétrica. Em Minas Gerais, 1,2 milhões de pessoas já foram afetadas por falta de energia. Ela também é cortante. Foram mais de 30 casos registrados em 2018 de crianças eletrocutadas com linha de limalha. Cai a pipa na alta tensão, morre instantaneamente”, alertou. 

Médico legista, o vereador Dr. Lívio também alertou sobre os perigos do uso irregular da pipa. “A pipa é tradicional, milenar, mas a linha de cerol, chilena, ou qualquer que seja o nome que coloque o mínimo risco para uma pessoa, aquele que está usando é criminoso. Não tenho outra palavra para designar isso. Se a questão é o espaço para soltar pipa e realizar campeonatos, é algo legítimo, que todos concordamos. Me coloco plenamente contrário a qualquer possibilidade de linha cortante”, frisou.

Espaço para o debate de ideias e pluralidade de opiniões, a audiência pública também contou com a participação de representantes de associações de pipeiros. Para Herbert Tolini, Campo Grande precisa de um local específico para a prática do lazer.

“Não somos a favor do cerol em vias públicas. Fazemos campeonatos há quatro anos. Primeiro, a gente quer um espaço. Não queremos atropelar as coisas. Nossa associação acabou de ficar pronta. Estamos fazendo carteirinha e mensalidade para manter o espaço que a prefeitura vai nos ceder. Assim, vamos ter a administração do espaço e os maiores de 18 anos poderão transportar linha esportiva para o espaço. Nossa preocupação também é com a sociedade, não queremos causar algum acidente”, garantiu.

Outro favorável a criação de um ‘pipódromo’ foi Muller Chaves. “Precisamos de um local pra fazer nossa brincadeira com segurança, sem levar perigo a ninguém. Temos campeonatos fora do Brasil com muitos participantes. Se todo mundo procurar fazer o melhor, tem como encaixar um pipódromo aqui em Campo Grande. Temos muitas áreas verdes onde dá para se fazer. Somos contra a linha em vias públicas, muitos trabalham com a moto, eu ando de moto”, afirmou.

O titular do Procon-MS (Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor), Marcelo Monteiro Salomão, foi outro a defender a regulamentação das pipas. “Toda a sistemática de comercialização de produtos vedados por lei é fiscalizada pelo Procon. Soltar pipa não é ilegal. Comercializar produtos que tornam a linha cortante, sob qualquer arte ou manuseio, passa a ser ilegal. Se criarmos um sistema que garanta a saúde não só dos motociclistas, mas de todos, chegaremos a um denominador comum, para que todos possam ter seus espaços. Se nos organizarmos, dentro da lei, vamos chegar muito longe. Temos que criar um sistema para que ninguém fique refém, e o sistema de proteção do consumidor não prevarique”, defendeu.

Para o tenente Gabriel Ferreira, do Corpo de Bombeiros, a conscientização é a melhor arma. “Precisamos conscientizar do perigo que é a utilização desse tipo de linha na via urbana. Quando o Corpo de Bombeiros atua, já houve um acidente. Nós precisamos trabalhar na prevenção e pedimos que todos sejam parceiros”, resumiu.

Jeozadaque Garcia
Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal