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Comerciantes e moradores reclamam de abandono e pedem soluções para região da antiga rodoviária

26.02.2018 · 12:00 · Audiência Pública

Comerciantes e moradores do bairro Amambaí, um dos mais antigos de Campo Grande, reclamam do descaso com a região após a mudança do Terminal Rodoviário, que há oito anos foi para a Avenida Gury Marques e deixou o prédio praticamente vazio. Os reflexos do abandono, dizem, podem ser vistos dentro do condomínio, com a queda no faturamento dos lojistas, e do lado da fora, tomado por moradores de rua e usuários de drogas.

“Já se vão oito anos que a rodoviária mudou e estamos sem definição nenhuma. O prédio foi prestador de serviço público durante 30 anos e merece o respeito não só da população, mas, principalmente, do poder público. Hoje, temos um problema social muito grande no entorno do prédio. Os empresários, principalmente os que mantêm o prédio aberto, não estão pedindo para o poder público ir lá revitalizar o prédio. Estamos pedindo a revitalização das áreas públicas, que estão totalmente abandonadas”, disse Rosana Nely de Lima, síndica do Condomínio Terminal Rodoviário, que aponta ainda prejuízos na rede hoteleira da região.

“Temos 70% da rede hoteleira no nosso bairro, e ela é muito prejudicada. A impressão que o hóspede leva de Campo Grande é a que ele vê no bairro Amambaí. Esse é um problema que afeta não só os comerciantes, mas todo o bairro. Não conseguimos convencer os empresários a investirem no prédio”, completou.

Fundado em 16 de outubro de 1976, a Estação Rodoviária “Heitor Eduardo Laburu” foi um dos principais pontos de encontro do campo-grandense até ser desativada, em 31 de janeiro de 2010. Desde então, sem o movimento dos turistas, os comerciantes viram seu faturamento minguar, o local servir como ponto de venda de drogas e os imóveis perderem valor de venda. O espaço possui 229 salas, 5 mil m², sendo que 9% da área pertence à Prefeitura.

“Essa é uma causa que deve ser uma luta de todo e qualquer vereador. É uma região que, hoje, está totalmente desvalorizada. É bom para quem quer investir. Mas, você fazer uma reforma em um prédio que será depredado durante a madrugada, não é viável. Acredito que passou da hora de tomarmos uma atitude. O Conselho Regional dos Corretores de Imóveis está à disposição, pois é uma região que precisa ser repensada com carinho”, disse Delso José de Souza, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Mato Grosso do Sul.

A audiência foi convocada pela Comissão Permanente de Assistência Social e do Idoso, composta pelos vereadores Enfermeira Cida Amaral (presidente), Betinho (vice), André Salineiro, Pastor Jeremias Flores e Valdir Gomes, e não foi a primeira realizada na Câmara desde que o Terminal mudou-se para a Gury Marques.

Para o vereador Valdir Gomes, ‘está na hora de sair do discurso. “Temos que tirar dessa audiência uma comissão forte. Não é possível aquele prédio ficar do jeito que está. Ali, cabe muito bem uma ou duas secretarias. As pessoas que estão lá, estão desestimuladas. Tudo que foi investido, está acabando, sem contar a droga que se instalou ali. Não dá para passar a noite naquela região e não vemos ações concretas. Está na hora de sair do discurso”, cobrou.

O excesso de usuários de drogas na região também é a principal reclamação do presidente da Associação de Amigos do Bairro Amambaí, Paulo Pereira. “Os moradores se incomodam muito com a presença dos dependentes químicos, dos moradores em situação de rua. Precisamos de um trabalho urgente com esta população”, pediu. “Sempre tem um pedinte do lado, incomodando. Os empresários sentiram a queda no seu faturamento. É inadmissível em uma Capital a gente brincar de política pública. Somos reféns de uma sociedade tacanha, não dá mais. Enquanto aquilo ali for chamado de antiga rodoviária, não vai mudar. Precisamos pensar no novo”, emendou outro representante da região, Almir Machado.

Segundo a vice-presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas), Heloísa Cury, o empresariado tem medo de investir no local por conta do impasse. “Passaram-se três prefeitos e o que ficou foram só promessas. As pessoas tem medo de investir no local, pois não tem certeza se o poder público fará a parte dela. Os moradores em situação de rua precisam de algo concreto. Por que não há interesse em revitalizar a região? Tudo se modificará a partir dessa requalificação. O prefeito tem que resolver essa situação. Não dá mais para ficar assim, pois todo o bairro sofre com a desvalorização. A luta é antiga, mas temos que pensar no futuro”, afirmou.

Já a diretora de Planejamento e Avaliação da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), Maria Aparecida Melo, afirmou que a Prefeitura tem atuado na região para amenizar o sofrimento dos moradores em situação de rua. “Enquanto política pública de assistência social, fazemos o atendimento das pessoas que estão em situação de rua, mas, também, as que estão em situação de vulnerabilidade. Temos pessoas que estão mendigando. Na verdade, não é somente responsabilidade da assistência social, mas de todos nós. Temos, também, situações de ONGs que fazem o apoio a essas pessoas que estão na rua, inclusive igrejas e voluntários que oferecem alimentação e moradia para que elas possam sair dessa situação. Mas, eles não querem sair da situação que estão. Recebem cesta básica, marmitex, cobertor. E isso não ocorre só lá. A assistência social está a disposição, por meio da nossa equipe”, ponderou.

Vereadores querem solução – O debate reuniu representantes da Prefeitura, de associações de moradores, conselhos e representantes de classe. Os vereadores presentes, membros das comissões permanentes, representaram todos os 29 parlamentares da Casa no debate. Em regra, pediram uma solução imediata para o impasse envolvendo o centro comercial.

“Não admito ver a rodoviária se tornar o que estamos vendo. Não podemos ficar só na conversa. Temos que agir, tomar uma atitude. Os vereadores, tenho certeza, todos têm seriedade com a coisa pública e estão com vontade realizar. Tenham certeza que vamos empreitar. Vamos avante e resgatar o terminal”, afirmou Wilson Sami.

“É uma obrigação do poder público zelar por aquilo. Estou desmotivado, confesso, mas temos que ter soluções. Ano passado, estive pessoalmente com o prefeito para tratar desse assunto. Quero deixar uma das soluções: seria uma consulta jurídica a essa Casa de Leis, que se fizesse um projeto autorizando para que a Prefeitura ceda sua parte para iniciativa privada. Somente através dela, eu vejo, conseguiremos reconstruir aquele local. Não só questão física, mas levar parceiros para lá. Não tem mais como esperar do poder público”, disse André Salineiro.

Segundo o vereador Delegado Wellington, a Câmara já tem trabalhado para resolver o problema da região, através de projetos de lei e assessoramento à Prefeitura. “Os projetos estão aqui, foram criados: Plano Municipal de Segurança Pública, Escola de Tempo Integral. Mas, precisamos da participação democrática, de forma republicana. É um problema que não é da segurança pública, mas é de todos. Eu sei que gera indignação. A polícia, todos os dias prende. E o que acontece? Temos a lei do desencarceramento, audiência de custódia, que não prendem ninguém. Ou mudamos as leis, ou estamos fadados a sucumbir nessa sociedade onde todos têm muitos direitos e poucos deveres”, cobrou.

Já o vereador João César Mattogrosso pediu união entre poder público e iniciativa privada para requalificar o espaço. “Acredito muito na união. Se não for assim, não vamos resolver esse problema. Precisamos que vocês entendam que se não estiverem juntas, não será fácil. Sem o poder público, podem ter certeza que tudo fica mais difícil. É com esse poder público que estamos conseguindo destravar a revitalização da Feira Central. Tenham a certeza que, nessa gestão, iremos resolver o problema de Campo Grande, que é a rodoviária antiga”, finalizou.

Segundo a vereadora Enfermeira Cida Amaral, proponente da audiência, uma comissão será formada para discutir, junto ao Executivo, uma solução para os lojistas do prédio e moradores da região do bairro. “Vamos, realmente, fazer propostas concretas. Mas, a primeira proposta agora, é colocar a Comissão de Assistência Social da Casa para acompanhar a comissão que será formada. Deixo muito claro que essa comissão não é para papo furado. Não prometo, mas me comprometo com vocês e quero representá-los junto com meus colegas aqui da Câmara”, finalizou a parlamentar.

Jeozadaque Garcia
Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal