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Audiência na Câmara alerta para uso de álcool e drogas entre crianças e adolescentes

16.05.2022 · 12:00 · Audiência Pública

Audiência pública realizada pela Câmara Municipal, na manhã desta segunda-feira (16), alertou para o uso de excessivo de álcool e drogas entre crianças e adolescentes em Campo Grande. O debate foi convocado pela Comissão Permanente de Saúde da Casa de Leis e reuniu autoridades e especialistas na área de saúde pública.

“Tinha uma época que quem bebia era homem e adulto. Hoje, bebe mulher, crianças e idosos. E não basta beber. Tem que fotografar e postar, pra mostrar pra todo mundo que você bebe, e achar isso bonito”, disse o vereador Dr. Sandro, presidente da Comissão. “A imensa maioria [dos dependentes químicos] começa com álcool e, infelizmente, banalizamos o uso de álcool na sociedade. O álcool tem destruído vidas e famílias, e levamos isso como se fosse uma brincadeira no dia a dia”, complementou.

Dados apresentados pelo parlamentar mostram que, até 2010, a principal causa por intoxicação e mortes no Brasil eram medicamentos.  Na década seguinte, a maior causa desses óbitos eram decorrentes de picadas de animais peçonhentos, como escorpiões. De 2020 pra cá, uma nova mudança: 70% das intoxicações foram pelo uso abusivo de álcool e outras drogas, até mesmo com overdoses entre crianças e adolescentes, entre 12 e 15 anos. 

“Estamos saindo de uma pandemia de covid-19, mas enfrentamos um novo problema. Tenho visitado várias clínicas de recuperação. São dezenas de comunidades terapêuticas em Campo Grande, com milhares de homens e mulheres que estão ali para tentar se recuperar, tanto na cidade, como em chácaras. O que vejo? O índice de recuperação não passa de 5%. 95% dos dependentes morrerão sendo dependentes, com alteração de personalidade e identidade. Algo precisa ser feito”, continuou.

Para o vereador Prof. André Luís, é preciso envolver a sociedade na discussão que, segundo ele, não terá resultados com medidas simples. O parlamentar defende, inclusive, a intervenção para internar os dependentes. 

“A gente está em uma epidemia de liberdade. Precisamos de legislação mais forte, de métodos. Precisamos colocar regras: liberdade também pressupõe seguir regras. Problemas complexos não têm soluções simples, pois exige envolvimento da sociedade, dos legisladores. Precisamos de medidas de intervenção, entender que um viciado não é dono da sua própria vontade. A interdição é fundamental. Uma pessoa viciada não está liberta e não tem livre consciência. A hipocrisia nos leva a uma sociedade desorganizada”, afirmou.

A diretora-adjunta da Subsecretaria Municipal de Direitos Humanos, Bárbara Cristina Mesquita, frisou que o poder público tem trabalhado de maneira intersetorial com as instituições para desenvolver parcerias. 

“Acompanhamos e monitoramos políticas públicas para pessoas de rua. Trabalhamos a intersetorialidade. Trouxemos as comunidades terapêuticas, casas de apoio, universidades, para também construir o trabalho. Foi criado um programa de ação integrada e continuada, que começou com 100 vagas sociais para acolhimento e tratamento. De lá para cá, foi muito eficaz, conseguimos trabalhar a intersetorialidade, o trabalho integrado. Cada um pode contribuir e fazer com que isso venha se expandir mais e mais”, defendeu.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2018, 65,2% dos adolescentes brasileiros com idade entre 13 e 15 anos faziam uso mensal de álcool, e outros 11,7% usavam com frequência, de quatro a seis vezes por mês. E 9% diziam fazer “uso pesado” de bebidas alcoólicas.

O deputado estadual Lídio Lopes reforçou que o álcool é a principal porta de entrada para outras drogas. “A pessoa começa a consumir a bebida alcoólica e, depois, não se contenta mais. Depois da cerveja, quer algo mais forte, vai para os destilados e, depois, entra na maconha, cocaína, crack, e daí por diante. Esse é o grande problema que a gente enfrenta”, disse.

Para o vereador Prof. Juari, não se trata de um assunto de segurança pública, mas, sim, de saúde pública. “Sempre coloquei esse tema como saúde pública. Sabemos que é uma questão de investimentos, mas também de olhar para as pessoas. Não é gastar, é investir. Temos que fazer o que é prático, pois teoria já estamos cheios. Precisamos sair dessa audiência com encaminhamentos práticos”, defendeu.

O subsecretário de Políticas Públicas para Juventude, Ian Odara Araújo Leal, defendeu maior participação da família na discussão. “Precisamos olhar para o início: temos bebida, cigarros, os cigarros eletrônicos. Isso cria uma preocupação muito grande e precisamos trazer a sociedade para discutir essa pauta. As drogas desencadeiam outras problemáticas. O poder público vem fazendo sua parte: uns dizem que é pouco, outros dizem que é o suficiente. Mas é uma questão que vai muito além do poder público. Entendo que ela começa dentro da família.  Então, precisamos trazer todos os atores para debater essa pauta”, afirmou.

Jeozadaque Garcia
Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal