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Pais e alunos manifestam revolta com fechamento de escolas estaduais e recebem apoio de vereadores

08.01.2019 · 12:00 · Reunião

Revolta, tristeza e indignação. Sentimentos que marcaram as declarações feitas por pais, alunos, professores e demais profissionais de escolas públicas estaduais de Campo Grande que foram surpreendidos pelo anúncio de que os locais serão fechados pela Secretaria Estadual de Educação. Eles participaram de reunião na Câmara Municipal na manhã desta terça-feira, 8 de janeiro. O debate foi promovido pelo vereador Valdir Gomes, presidente da Comissão Permanente de Educação da Casa de Leis e integrante da Comissão Representativa do recesso parlamentar. Vereadores já acionaram o Ministério Público Estadual e continuarão cobrando providências para tentar manter os colégios abertos.  

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Depois das rematrículas dos alunos já terem sido feitas, a Secretaria Estadual de Educação anunciou, nos últimos dias, o fechamento das escolas Riachuelo, no Bairro Cabreúva, Consuelo Muller, na Vila Jacy, Otaviano Gonçalves da Silveira Junior, que fica dentro do residencial Flamingos, e a escola Zamenhof, localizada na Rua Dom Aquino, região central de Campo Grande. No total, são quase 1,2 mil estudantes. 

Agora, segundo o vereador Valdir Gomes, as reivindicações feitas durante a reunião desta terça-feira e as comprovações das matrículas serão anexadas ao requerimento formalizado junto ao Ministério Público Estadual. No dia 20 do mês passado, os vereadores aprovaram o pedido cobrando providências do MPE para que a Secretaria seja notificada a não fechar os estabelecimentos de ensino.  

“Não vou me calar. Represento a educação nessa Casa. Não tem que fechar escola”, afirmou Valdir Gomes. Ele contou que procurou a secretária estadual de Educação, Maria Cecília Amendola da Mota, mais de uma vez, esteve nos colégios com o secretário adjunto e esteve no MPE.  “A secretária me apresentou contas para dizer que não podia atender a esse pedido de não fechar as escolas; apoiei o governo e estou quase me arrependendo”, afirmou. Ele argumentou que há cargos administrativos que podem ser cortados ou coordenadorias para economizar custos. “Estamos tratando de vida e educação”, finalizou. 

O presidente do Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação, Lucílio Nobre, reclamou da falta de planejamento quanto à decisão de fechar as escolas. “Educação se pensa a médio e longo prazo, assim como o professor planeja seu trabalho; não faz sentido fechar do dia para noite. Não somos contra reordenamento, mas tem que levar ao conhecimento dos segmentos que compõem a escola, como professores, pais, Grêmio Estudantil, conselhos, ACP e Fetems”, disse. Ele questionou ainda sobre os materiais já adquiridos e lembrou que “educação não é gasto, mas sim investimento”. 

Para o presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Jaime Teixeira, é fundamental a discussão envolver a sociedade, pois a função da escola vai muito além de aprender a ler, escrever ou fazer contas. “A escola tem função social. Ela nasce porque a comunidade precisa dela. Então, o fechamento tem que ter causa debatida”, argumentou. Ele parabenizou o Legislativo pelo debate promovido mesmo durante o período de recesso e falou que esse mesmo problema repete-se no interior do Estado, em cidades como Bandeirantes e Camapuã. Agora, a meta é levar essa mesma discussão para a Assembleia Legislativa. 

O presidente do Sindicato dos Servidores Administrativos em Educação, Wilds Ovando, foi lotado na Escola Otaviano durante 20 anos e esclareceu que o prédio foi construído como contrapartida na época da obra do Residencial Flamingos. Por isso, pertence a  toda comunidade. O síndico do condomínio teria levado à Secretaria de Educação pedido para que o local fosse fechado. “Ainda não sabemos o que farão com o prédio. Ficará fechado? Farão a manutenção ou deixarão virar esconderijo de criminosos”, questionou. Ele perguntou ainda o que será feito com carteiras e computadores dos colégios fechados, argumentando não haver lógica em superlotar outras escolas enquanto há espaços disponíveis. 

A vereadora Dharleng Campos fez apelo para que os professores não sejam perseguidos e defendeu a importância de os vereadores estarem representando a comunidade no caso. “Estamos aqui para representar o povo, o que acontece em Campo Grande é responsabilidade nossa, mesmo tratando-se de escolas estaduais. Vamos conseguir chegar ao coração da secretária. Vamos lutar até o fim para mudar essa realidade”, disse. 

Esse mesmo debate precisa ser estendido à Assembleia Legislativa, conforme o vereador André Salineiro, que já vai entrar em contato com alguns deputados para ampliar a busca por soluções. “Faço parte da bancada do PSDB, mas nem por isso concordo com a medida da Secretaria de Educação. Temos que buscar entendimento”, argumentou.   

O vereador Dr. Wilson Sami falou que é solidário e disse que a luta é legítima. “Escola não se fecha, é absurdo. Derrubaremos os argumentos da Secretaria, sejam lá quais forem”, afirmou. Já o vereador Fritz enfatizou a necessidade de usar o controle social, por meio dos Grêmios Estudantis, para documentar em ata a insatisfação. “Temos que lutar usando as armas certas, pontuando ainda ofertas, subsídios e projetos pedagógicos nestas atas para mostrar a efetividade”, disse.  

O Pastor Jeremias Flores enalteceu a participação das escolas na Câmara e o envolvimento das famílias. “Vemos nessas escolas a participação das famílias, o que é muito importante”. Os vereadores reclamaram da ausência de representante da Secretaria Estadual de Educação, que recebeu convite para comparecer e poder das explicações para o fechamento das escolas. 

Escolas

A empresária Ana Cristina Dias falou representando os pais de alunos da Escola Riachuelo, manifestando sua revolta. Ela reclamou que sua filha terá que fazer trajeto ainda maior de ônibus e teme pela sua segurança para ir a outra escola. “A Riachuelo tem 61 anos e é escola muito importante. A Secretaria aprovou o projeto de Ensino Médio na escola e, de forma incoerente, anunciou o fechamento. Minha filha já estava até rematriculada”, disse. Ela esclareceu ainda que o colégio não é padrão, por contar com o Projeto AJA (Avanço do Jovem na Aprendizagem), recebendo alunos com problemas familiares, com drogas e encaminhado da Unidade Educacional de Internação (Unei). “Minha filha já tinha reprovado em outra escola. Foi para lá porque moramos no Bairro Amambai, ali perto. Agora, está interessada nos estudos, em projetos da escola”, disse. 

A coordenadora da Escola Riachuelo, Tania Maria da Silva Marques, pediu ao menos que fosse possível a conclusão do Ensino Médio, por meio de novo projeto. “Vejo no dia a dia o desenvolvimento dos alunos, que antes não cantavam o Hino Nacional, não tiravam boné, não faziam fila para comer. Não desconstrua o que foi construído. O projeto é maravilhoso”, argumentou. Ela relatou casos de aluno que eram da Unei e estão querendo prestar concurso ou ingressar no Exército. 

Bastante emocionada, a estudante Mariana Borges, disse tem a Escola Riachuelo como uma casa. “Já choramos tanto por causa disso. Lá temos psicológo, professores dedicados. Alunos que podiam dar errado, mas  a escola aconselhou, ajudou. Por que fechar escolas? Deixo como reflexão para todos pensarem. Fizeram o projeto AJA, nos deram esperança de futuro melhor, mas agora querem nos transferir para outra escola onde não somos bem vindos e fizeram até protesto para não irmos”, disse a jovem, que preside o Grêmio Estudantil. 

Pela Escola Otaviano, Agnaldo Cardoso, pai de aluno, disse que todos foram pegos de surpresa com o anúncio de fechamento. “Como pai estamos preocupados. A Escola Otaviano não está naquele lugar invadindo, entrou de forma ordeira, tendo anuência de pessoas do Residencial Flamingos. Estamos retrocedendo? A educação está tendo retrocesso pela condução de pessoas insensíveis ao saber, fazendo isso a toque de caixa, sem aviso prévio”, afirmou, referindo-se à polêmica sobre o colégio ficar no condomínio e a falta de diálogo com os alunos. 

Aline Nunes, estudante da Escola Estadual Otaviano, disse que seu sentimento é de tristeza e revolta. “A escola tem um legado forte na nossa comunidade, muitos pais se formaram ali e tem seus filhos na escola. Pena a  secretaria não estar aqui para nos ouvir”, afirmou. Ela lembrou que a escola  é considerada a quarta melhor de Campo Grande. “Como é possível ser fechada dessa maneira?”, questionou a aluna. 

 

Milena Crestani 

Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal