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Câmara abre espaço para juventude discutir temas latentes na sociedade

24.04.2017 · 12:00 · Audiência Pública

A Câmara Municipal de Campo Grande abriu espaço, nesta segunda-feira (24), para estudantes do ensino médio discutirem temos latentes na sociedade, como a reforma da Previdência, do Ensino Médio e a terceirização, que tramitam no Congresso Nacional e levantam polêmica em vários setores da sociedade. O debate foi convocado pela Comissão Permanente de Legislação Participativa, composta pelos vereadores André Salineiro (presidente), Enfermeira Cida Amaral (vice), Cazuza, Papy e João César Mattogrosso.

“Temos que ouvir também a sociedade. Muitas leis são feitas e aprovadas sem que a população seja ouvida. A reforma do ensino médio vai fazer com que tenhamos adultos que não pensem o futuro do Brasil. Tirando matérias como sociologia e filosofia, você cria um país sem pessoas que pensam”, refletiu o jovem Vinicius Moreira Souza, estudante da Escola Orcírio Thiago de Oliveira. “Com a reforma da Previdência, o jovem vai entrar precocemente no mercado de trabalho. Mas e o jovem que busca uma faculdade? Como vai começar trabalhar aos 16 anos, sendo que ele quer se dedicar aos estudos? Ele vai entrar precocemente, despreparado, e não vai conseguir atingir seus objetivos profissionais”, complementou.

A audiência pública foi proposta após conversa do vereador André Salineiro com estudantes do ensino médio que fizeram manifestação contra a reforma da previdência, com passeata até a Casa, há quase duas semanas. Após o manifesto, os estudantes solicitaram um espaço para discutir a reforma da previdência e outras leis que vão impactar suas vidas a médio e longo prazo.

O presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 24ª Região, juiz Christian Gonçalves Mendonça Estadulho, falou sobre terceirização e criticou o projeto: caso a proposta seja aprovada, o poder de compra do trabalhador brasileiro vai diminuir, garante.

“O direito do trabalho jamais pode sofrer um facão como está ocorrendo agora. Sem uma discussão ampla, a toque de caixa. A reforma trabalhista vai simplesmente retirar inúmeros direitos da classe trabalhadora sem que a classe empresarial tenha, realmente, um ganho de produção. Se for aprovada da forma como foi proposta, vai haver uma diminuição de renda do trabalhador e os próprios empresários sofrerão as consequências, pois o poder de consumo vai diminuir”, afirmou.

Sobre a reforma do ensino médio, a primeira-secretária do Conselho de Jovens Empresários de Campo Grande, Desiré Queiroz, cobrou que a proposta não transforme a educação em ‘excessivamente tecnicista’. “ intenção da reforma do ensino médio é deixar mais flexível e adequado. Há um grande risco nessa aprovação e aplicação da reforma: pode-se assinar uma folha em branco. Não podemos transformar a educação em excessivamente tecnicista”, alertou.

O vereador Papy, que tem forte atuação junto à juventude, afirmou que os jovens devem participar de maneira mais contundente da política no Brasil. “Precisamos fazer uma política de juventude no Brasil agora. Enquanto o jovem não entender que a política passa pelo processo eleitoral, vamos chorar o leite derramado. Depois de ter um congresso eleito, vamos ficar mandando e-mail para deputado? A influência tem que ser antes, na urna, e propositiva. Na escola, o debate deve estar lá dentro”, propôs.

Na opinião da estudante Vitória Araújo, da Escola Estadual Coração de Maria, a reforma foi precipitada, já que não houve a participação dos alunos nas discussões. “A reforma não foi discutida com os estudantes. Precisamos, sim, da reforma no ensino médio, e também na educação. Mas não essa reforma que querem implantar. O jovem, com 14 anos, não tem capacidade de saber o que quer para a vida dele. Pode até gostar de algo, mas no desenvolver do ensino médio, ele verá outras coisas mais atrativas”, ponderou.

Weberton Sudario, presidente da Fetricom/MS (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Mato Grosso do Sul), também criticou a reforma trabalhista e da Previdência. “É uma afronta querer colocar homem e mulher em igualdade. Mulher tem jornada dupla. É inadmissível colocar essas regras que aí estão. Tem que taxar as grandes empresas. Não somos nós, trabalhadores, que temos que pagar a conta. O empresário não paga o que é devido e ainda sonega. Os estudantes têm que ficar alerta”, cobrou.

Para o vereador Eduardo Romero, o ensino médio está sendo adaptado para um grupo específico da sociedade que tem um único objetivo: manter seus lucros. “Não vamos achar que a reforma do ensino médio veio para facilitar o ensino. Ela veio para atender, de novo, uma demanda especifica de uma parte da sociedade. A terceirização, da forma que veio, veio para atender uma parcela. Não podemos esquecer de ler esses contextos. Claro que precisa flexibilizar as leis trabalhistas, a previdência e o ensino médio. Mas, hoje, quem dita as regras, não é quem leva o piano nas costas. É uma elite menor que está dando regras”, afirmou.

Por fim, a vereadora Enfermeira Cida afirmou que os temas tratados durante a audiência seriam suficientes para outros três debates na Casa de Leis. “A terceirização é um prejuízo para as instituições, para os trabalhadores. O ensino médio precisa, sim, ser remodelado, mas ouvindo a todos. E a Previdência, será que temos que mudar? Ou devemos mudar quem conduz os trabalhos? É muita hipocrisia dizer que não temos dinheiro. Não falta dinheiro para custear. Esse dinheiro é desviado de sua finalidade”, afirmou.

“Por vocês, estudantes, provocamos essa audiência pública. Contem com essa Casa de Leis para aquilo que vocês acharem que é preciso debater. Agradeço a cada um dos que vieram. Tenham aqui o respaldo que hoje o cidadão tanto espera dos representantes que eles colocam no poder público, que nada mais é do que um representante do próprio cidadão”, finalizou o vereador André Salineiro.

Jeozadaque Garcia
Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal